Júlia Silva

Flexibilidade no trabalho: as adaptações para o novo normal

A maneira como enxergamos a flexibilidade no trabalho está mudando. Hoje, não se trata apenas de escolher entre trabalho presencial, remoto ou híbrido. 

Vai muito além disso. Envolve políticas internas de férias, benefícios personalizados, horários maleáveis e uma redução na burocracia que permeia, por exemplo, o controle de ponto. 

Neste artigo, entenderemos o que é a flexibilidade no trabalho e como as empresas podem definir e delimitar esse conceito dentro de seu próprio contexto.

Vamos lá?

Na prática, o que significa flexibilidade no trabalho?

Quando falamos em flexibilidade no trabalho, vamos além de escolher entre ficar no escritório, trabalhar remotamente ou adotar um modelo híbrido. 

A flexibilidade no trabalho abrange elementos que moldam a experiência do colaborador e a cultura da empresa, como políticas internas de férias flexíveis, por exemplo, oferecendo a possibilidade de que os funcionários escolham quando desejam tirar folga, respeitando suas necessidades pessoais. 

A possibilidade de selecionar benefícios personalizados reflete a valorização das diversas necessidades de cada funcionário, individualmente. 

Horários flexíveis, por sua vez, não apenas ajudam os colaboradores a equilibrar trabalho e vida pessoal, mas também reconhecem que o pico de produtividade pode variar de pessoa para pessoa.

A flexibilidade se estende, ainda, à redução da burocracia, como no controle de ponto. A eliminação de processos excessivamente rígidos dá aos colaboradores uma sensação de confiança e autonomia. 

No entanto, é importante alinhar e definir o que significa a flexibilidade para a empresa e quais são seus limites dentro da organização. 

Uma empresa pode oferecer uma ampla gama de opções flexíveis, mas se os colaboradores não souberem o que está disponível ou se não houver uma diretriz clara, essa flexibilidade perde seu valor. 

Delimitar e comunicar o conceito de flexibilidade, de acordo com o contexto da empresa, torna-se essencial para uma implementação bem-sucedida.

Por que ser uma empresa flexível é importante nos dias atuais?

A transformação do ambiente de trabalho é um reflexo das mudanças na sociedade como um todo. O perfil dos trabalhadores está evoluindo e a pandemia acelerou essa mudança.

A busca por flexibilidade, agora, é uma demanda necessária para o bem-estar dos colaboradores e para o sucesso da empresa. 

Com a ascensão das gerações mais jovens, como os Millennials e a Geração Z, há maior valorização do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e necessidade de melhor adaptação a novas formas de trabalho.

O contexto pós-pandemia tornou ainda mais evidente a importância da flexibilidade. As empresas que já adotavam modelos flexíveis provavelmente tiveram uma transição mais tranquila para o trabalho remoto, por exemplo. 

Além disso, a flexibilidade é um diferencial na atração e retenção de talentos. Profissionais qualificados buscam empresas que compreendem e atendem às suas necessidades, e isso passa por ter regras mais maleáveis e adaptáveis.

Flexibilidade no trabalho é aplicável em todos os mercados e funções?

Embora a flexibilidade no trabalho seja uma meta desejável, sua aplicação pode variar dependendo do setor e das funções específicas. Em algumas indústrias, como a manufatura, a presença física faz-se necessária, devido à natureza da produção. 

Em setores que lidam diretamente com o público, como o comércio e bancos, a manutenção de horários comerciais é importante para atender às necessidades dos clientes.

No entanto, até mesmo em contextos mais restritos, é possível encontrar maneiras de incorporar a flexibilidade. Isso pode envolver opções como:

Mesmo que  alguns mercados enfrentem mais restrições, a busca por formas flexíveis de trabalho ainda é viável.

Como o RH pode fomentar a flexibilidade no trabalho?

À medida que a natureza do trabalho e as expectativas dos colaboradores continuam a evoluir, o RH precisa liderar a mudança cultural e implementar estratégias que apoiem a flexibilidade no trabalho. 

Veja aqui 8 formas:

  1. Mudança cultural: ao promover a mudança cultural na empresa, há maior aceitação da flexibilidade como um valor central. Isso envolve educar os líderes e colaboradores sobre os benefícios da flexibilidade, como a melhoria do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, o aumento da satisfação dos funcionários e a melhor capacidade de reter talentos.
  2. Processos de feedback: os colaboradores precisam se sentir à vontade para compartilhar suas necessidades e preocupações relacionadas à flexibilidade. O RH pode criar canais de comunicação eficazes para coletar feedback e, em seguida, trabalhar para implementar soluções relevantes.
  3. Incentivar a inovação: ao criar um ambiente que valorize novas ideias e abordagens, o RH está incentivando os colaboradores a buscar soluções criativas para os desafios relacionados ao trabalho flexível.
  4. Capacitação em habilidades comportamentais: o RH pode oferecer programas de treinamento que desenvolvam habilidades comportamentais essenciais para a flexibilidade, como a gestão do tempo, a resolução de conflitos, a comunicação assertiva e adaptabilidade.
  5. Políticas e benefícios flexíveis: para implementar políticas internas que promovam a flexibilidade, o RH precisa incluir a criação de políticas de trabalho remoto, horários flexíveis, opções de férias personalizadas e benefícios flexíveis, de acordo com as necessidades dos colaboradores.
  6. Apoio à implementação: o RH pode fornecer orientação e apoio prático aos gestores e colaboradores que desejam adotar práticas de trabalho flexíveis. Isso pode incluir a elaboração de diretrizes e melhores práticas para o trabalho remoto, por exemplo.
  7. Monitoramento e avaliação: é importante que o RH acompanhe e avalie regularmente as políticas e práticas de flexibilidade, o que envolve a coleta de dados sobre o impacto da flexibilidade na satisfação dos colaboradores, na produtividade e em outros indicadores-chave de desempenho da organização.
  8. Comunicação interna transparente: o RH precisa estabelecer uma comunicação interna transparente em relação às políticas e práticas relacionadas à flexibilidade. Isso inclui fornecer informações sobre como os colaboradores podem acessar opções flexíveis e quais são as expectativas da organização em relação a essas práticas.

A flexibilidade como soft skill: como avaliar se os colaboradores são flexíveis?

Tradicionalmente associada às práticas de trabalho e políticas organizacionais, a flexibilidade também se estende para o âmbito individual, como uma soft skill importante. 

A flexibilidade como habilidade comportamental é capaz de moldar a cultura organizacional e fortalecer o senso de propósito. Uma empresa verdadeiramente flexível, não é apenas aquela que oferece opções de trabalho, mas também aquela que promove e valoriza a adaptabilidade em todos os níveis. 

Colaboradores flexíveis não apenas acolhem mudanças, mas também as abraçam e as utilizam como oportunidades para o crescimento.

Para a organização, ter uma equipe flexível é uma vantagem estratégica. Isso significa que a empresa está equipada para responder de maneira rápida a novas demandas do mercado, a avanços tecnológicos e a situações imprevistas.

Uma força de trabalho flexível também promove uma cultura de inovação, onde os colaboradores não temem sair de suas zonas de conforto e estão dispostos a experimentar novas abordagens.

Além disso, a flexibilidade influencia a saúde mental dos colaboradores. A capacidade de se adaptar a mudanças reduz o estresse e a ansiedade relacionados a transformações, criando um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, evitando complicações como o burnout.

Avaliando a flexibilidade dos colaboradores

Avaliar a flexibilidade como soft skill pode ser desafiador, pois não se trata apenas de métricas tangíveis. No entanto, várias abordagens podem ser adotadas para entender e desenvolver essa habilidade em colaboradores. Conheça 8 delas:

  1. Avaliações 360 graus

Implemente avaliações 360 graus, onde os colaboradores recebem feedback de colegas, superiores e subordinados. 

Essa abordagem oferece uma visão completa de como um colaborador lida com mudanças e se adapta a diferentes situações, ajudando a identificar pontos fortes e áreas de melhoria.

  1. Feedback individualizado 

Realize reuniões individuais regulares entre gestores e colaboradores, a fim de discutir como eles lidaram com situações recentes de mudança, criando um espaço para orientação e desenvolvimento pessoal.

  1. Autoavaliação 

Encoraje os colaboradores a refletirem sobre sua própria adaptabilidade. Isso pode ser feito por meio de questionários ou autoavaliações, onde eles avaliam seu nível de conforto e eficácia ao lidar com mudanças.

  1. Análise de histórico de projetos

Revise o histórico de projetos dos colaboradores em busca de evidências de adaptabilidade. Identifique situações em que eles demonstraram flexibilidade, como a capacidade de assumir novas responsabilidades ou se destacar em contextos desafiadores.

  1. Dinâmicas internas

Crie cenários simulados de mudança por meio de exercícios em equipe, estudos de caso ou simulações de situações reais. Observe como os colaboradores respondem a esses cenários para avaliar sua capacidade de adaptação.

  1. Desenvolvimento de habilidades 

Ofereça treinamentos e workshops que visam desenvolver habilidades comportamentais essenciais para a adaptabilidade. Isso inclui o fortalecimento do foco na resolução de problemas, da gestão do tempo e da comunicação em ambientes em constante mudança.

  1. Avaliações regulares

Integre a avaliação da adaptabilidade como parte regular das revisões de desempenho dos colaboradores. Isso ajuda a manter a flexibilidade como uma prioridade e fornece dados para o desenvolvimento profissional contínuo.

  1. Observação contínua

Estimule os líderes a observar e documentar exemplos de adaptabilidade em suas equipes. Isso não apenas ajuda na avaliação, mas também reconhece e recompensa comportamentos desejados.

A avaliação da flexibilidade como habilidade dos colaboradores é uma jornada contínua. Vale ressaltar que, ao encorajar um ambiente onde a aprendizagem contínua e a abertura à mudança são valorizadas, o RH cria um ecossistema mais propício à flexibilidade.

Conclusão

Como vimos, a flexibilidade no trabalho vai além de escolhas de como trabalhar. É um conjunto de políticas, cultura e habilidades que moldam a maneira como as empresas operam e como os colaboradores se adaptam. 

No cenário atual, onde a mudança é constante e a demanda por equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é crescente, a flexibilidade se torna uma vantagem competitiva essencial. 

Ao ser implementada e incentivada pelo RH, ela se transforma em um componente valioso da cultura organizacional, promovendo um ambiente adaptativo, atrativo e mais resistente às incertezas do futuro. 

Não pare por aqui! Continue aprendendo sobre Como o bem-estar dos colaboradores está relacionado às ações do RH.